Marina Willer (all photos by Leo Veger)

Para a sua oitava edição, o WDCD voltou para o lindo e íntimo ambiente do principal teatro de Amsterdam, o Stadsschouwburg. Além deu uma seleção incrível de palestrantes, essa edição marcou o fechamento do Climate Action Challenge com um Demo Day espetacular e design jams simultâneos em Amsterda, Nairobi, New Delhi, São Paulo e Cidade do México, marcando a preparação para o novo Clean Energy Challenge. Ao mesmo tempo, o WDCD Live Amsterdam viu o kick-off do No Minor Thing Challenge, que focará em exploração sexual infantil, organizado em colaboração com o serviço de procuradoria pública holandês. De todas as formas a atmosfera foi vibrante e ativadora.

Ativacao é exatamente o que o WDCD é sobre, como o co-fundador e diretor criativo Richard van der Laken disse em sua introdução à oitava edição do WDCD Live Amsterdam. Em diferentes partes do mundo a plataforma tem o objetivo de mobilizar designers, ONGs, governos e empresas à usar o designer como ferramente para resolver os problemas urgentes da sociedade. As atividades da plataforma, incluindo as conferências, media e desafios de design, promovem uma mistura de inspiração e ativação. Ao longo dos anos o foco está se tornando a ativação com crescimento da quantidade de desafios que pedem novas ideias.

Richard van der Laken

Van der Laken revelou que o próximo desafio, que será lançado em setembro, irá tratar de problemas de energia em áreas metropolitanas, já que são aonde mais se concentra o consumo. Para investigar o tópico, times de designers e especialistas se juntaram em jams simultâneos em cinco cidades ao redor do mundo. Durante os dois dias da conferência em Amsterdam, os times deram pareceres de suas atividades em entradas ao vivo, provando que o WDCD está de Delhi à Cidade do México.

A FEROZ URGÊNCIA DO AGORA

Abrindo o palco principal do programa do dia 1, o reitor da Parsons School of Design, de Nova Iorque, Joel Towers, esboçou as grandes tarefas que a humanidade está encarando, expressando seu otimismo que poderemos nos adaptar e fazer grandes mudanças. Towers explicou que a época que estamos vivendo, também chamada de Antropoceno, é onde as ações humanas tem força dominante de mudança. Até agora, agimos para o pior, como ele ilustrou com gráficos convincentes sobre o aumento da média de temperatura global. ‘O momento em que vivemos é o resultado de nossas próprias ações’ ele disse. ‘Então, precisamos repensar a forma de desenhar nosso mundo.’

Se referindo a alguns exemplos de trabalhos de graduandos da Parsons, Towers dividiu seu otimismo de que vamos conseguir consertar o que está quebrado.  Citando Martin Luther King, ele disse: ‘Nós devemos confrontar a feroz urgência do agora. É isso que antropoceno quer dizer. É o tempo em qual o design deve ter um papel transformador em repensar como vamos viver nesse mundo. Se tomarmos responsabilidade pelo design e trabalharmos colaborativamente, se repensarmos os critérios de avaliação de sucesso e falha de nossas ações, dai o antropoceno será um ponto fundamental na história no qual percebemos o potencial da nossa espécie de mudança para o bem.

Joel Towers

USINA ELÉTRICA

Como que para provar o ponto de Tower, Marjan van Aubel apresentou a Power Plant, o projeto que a fez uma das treze vencedoras do Climate Action Challenge. Marjan se declara designer solar, procura incorporar técnicas avançadas de captação solar em nosso cotidiano, de forma mais agradável esteticamente. Ela integrou painéis solares transparentes na sua mesa Current, e também em novas versões de vitrais. Power Plant combina vidro solar transparente, hidropônia e luzes de LED em estufas para produzir comida de forma eficiente em qualquer lugar, seja em coberturas de prédios em cidades ou lugares remotos em desertos.

Marjan van Aubel

NOVA LUZ NOS REFUGIADOS

Aclamada designer gráfica Marina Willer, sócia do famoso escritório de design Pentagram, nos mostrou rapidamente o trabalho que ela tem feito com organizações como Anistia Internacional, Oxfam, e mais recentemente o abrigo de animais Battersea Dogs & Cats Home. ‘Mas’, ela disse, ‘com tudo indo tão mal no mundo, com o crescimento da xenofobia, mudanças climáticas, e tudo mais, em um certo ponto senti que precisava fazer outra coisa.’

Marina Willer

Em resposta à crise de refugiados de 2015, Willer, nascida no Brasil, filha de pais imigrantes checos, decidiu que queria fazer um filme que trouxesse o assunto de uma nova forma. Ela encontrou a inspiração na sua própria historia, a família de seu pai foi uma das poucas que conseguiu escapar dos horrores do holocausto. Sua família acabou no Brasil, ‘totalmente por acaso, poderia ter sido qualquer lugar’, e a diversidade desse pais virou ‘uma verdadeira salada de frutas’ de nacionalidades.

O filme de Willer, ‘Árvores Vermelhas’ se tornou uma resposta muito pessoal ao jeito que vemos e tratamos refugiados, ignorando a riqueza que eles trazem em diversas formas para as comunidades que entram. Nesse caso, filme era a melhor media para trazer essa mensagem.

A MANEIRA MAIS RÁPIDA DE ESCALAR

O designer Dave Hakkens também faz bastante uso do vídeo para espalhar suas ferramentas e ideias sobre reciclagem. Depois de perceber, enquanto estudante da Design Academy de Eindhoven, que menos de 10% de todo o plástico do mundo é reciclado, Hakkens quis fazer algo sobre isso. Ele criou o projeto para maquinas fáceis de construir para reciclagem em pequena escala. Ao compartilhar o projeto, de forma open source, em uma combinação de vídeos instrutivos, Hakkens construiu uma comunidade mundial de recicladores de plástico.

Dave Hakkens

Após cinco anos, existem por volta de 200 espaços de trabalho operacionais no mundo, com um sendo adicionado toda semana. A plataforma online encoraja colaboração e monitora o desenvolvimento da comunidade e oferece uma loja online para a troca dos itens produzidos nas Precious Plastic. Criar uma comunidade é o que faz possível criar uma grande escala mais rápido, diz Hakkens, mas ao mesmo tempo ele admite que o projeto só pode resolver uma parte do problema do mundo com o plástico. ‘Nós precisamos atacar esse problema de diversos ângulos.

A VERDADEIRA FACE DA IDENTIDADE AFRICANA

‘Por que nos limitamos a acreditar que a moda africana é feita de padronagens ‘dutch wax’?’ o arquiteto e fotografo Sunny Dolat de Nairobi, Quenia, perguntou a audiência na seção da tarde. Dolat é o co-fundador do Nest Collective, um grupo de artistas de varias áreas que investiga a identidade comum deles. ‘No nosso trabalho, estamos constantemente questionando e imaginando o passado, presente e futuro da nossa identidade negra africana, e  a intersecção com o feminismo, racismo e questões de sexualidade’, ele contou.

Sunny Dolat

O Nest ganhou atenção mundial em 2014, com o filme ‘Stories of our lives’, que surgiu da insatisfação da percepção das pessoas LGBQs africanas. O grupo coletou 250 historias, algumas das quais foram usadas no filme, que se tornou um sucesso inesperado, parcialmente pelo fato de ter sido banido no Quenia. Até agora, ‘Stories o four lives’ foi exibido em mais de 100 países.

Depois da experiência de passar pelas dificuldades de encontrar patrocínio para o projeto, Dolat e seu colegas artistas resolveram criar um fundo para criativos chamado Hiva. Desde então, o Hiva investiu em 30 projetos.

O projeto mais recente do Nest é o livro de moda Not African Enough, que contrabalanceia as pré concepções globais de como a moda africana deve ser, apresentando o trabalho de designers quenianos que, na visão deles, expressam a verdadeira e atual identidade africana.

CIDADES SÃO NOSSA ESPERANÇA MAIS CORAJOSA

O último palestrante do dia, o famoso teórico urbanista Richard Florida, autor de The Rise of the Creative Class, de alguma forma espelhou as palavras de Joel Towers, no começo. De Toronto, via vídeo ao vivo, ele também ressaltou a singularidade do momento que vivemos, com o mesmo otimismo, também acredita que as coisas irão mudar para melhor.

Richard Florida

‘Nós estamos vivenciando a maior disrupção na história da humanidade,’ disse Florida. Nos últimos cinquenta anos nós vimos uma mudança dramática de trabalho físico para trabalho mental. Ao mesmo tempo, metade da população mundial se concentrou em cidades, e essa revolução urbana ainda não acabou, considerando a expectativa de crescimento explosivo de cidades na Africa e na Asia nas próximas décadas.

A repercursão desses projetos é que novas divisões surgiram entre criativos e não criativos de um lado e areas rurais e urbanas do outro.

‘A nova crise urbana é uma crise de separação ainda maior,’, disse Florida, se referindo a evisceração das comunidades de classe média, segregação e gentrificação. Ao mesmo tempo, continuou Florida, nossas cidades são a nossa mais corajosa esperança para diversidade, a força que puxa a mudança, pois cidades sempre trouxeram as pessoas das mais diversas origens juntos. ‘O desafio é colocar lenha na fogueira criativa que fica em cada ser humano e elevar os 66% de nós que estão para trás.’

O motivo para se manter otimista, segundo Florida, ‘é que cidades continuam sendo o motor da nossa sociedade. Cidades são locais onde a criatividade esta contida e é gerada, e cidade são o local onde a diversidade pode florescer. E ao longo do tempo, e com trabalho duro, visão e liderança de todos nós, eu acho que podemos supercar as forças da repercussão negative e começar o caminho, em tempo, para uma sociedade mais criativa, compartilhada e inclusive.

E o WDCD não poderia concordar mais.