Guto Requena (all photos by Leo Veger)

O Dia 2 do What Design Can Do Live Amsterdam começou da pior maneira possível. O arquiteto brasileiro Guto Requena nos contou como ele havia sido sequestrado por horas. Pior ainda, seu pai foi assassinado. Em troca, Requena jurou abordar o design de uma forma positiva. Esse espirito define tudo que ele faz, tal como o pavilhão dançante das Olimpiadas do Rio em 2016, que une a energia de quem dança nele com o movimento de espelhos na sua fachada.

Seu projeto Can you tell me a secret? (2016) consiste de mobiliário interativo em uma praça não ocupada no Bom Retiro, em São Paulo,  bairro que é casa para muitos imigrantes. Sua instalação permite que o público ouça segredos deixados anonimamente por outras pessoas, trazendo assim vida de volta para a área, encorajando estranhos a se conectarem.

Guto Requena

Mais recentemente, Requena desenvolveu o Love Project. O projeto pega dados biológicos coletados através de sensores cerebrais e cardíacos e os usa para criar belos objetos. Requena acredita que a arquitetura deva transmitir as emoções das pessoas da mesma forma.

RELAÇÕES INQUIETAS

Estilista que se tornou designer de estampas Femke van Gemert, teve sua epifania também. Voando para a China, seu chefe anunciou que tinha o objetivo de aumentar a margem de lucro em 2%. Por que? Porque ele queria comprar um carro de luxo. Van Gemert percebeu ali que queria sair do mercado da moda. Hoje em dia, suas estampas criam visibilidade para a relação complicada da sociedade com a moda, a segunda indústria mais poluente, somente atrás da indústria do óleo. As peças que ela cria para clientes particulares são feitas de roupas recicladas doadas pelos próprios clientes.

Femke van Gemert

Como Van Gemert, o fazendeiro Jaap Korteweg se descobriu parte de uma indústria que não se justificava moralmente mais na visão dele. Ele sabia que a produção de carne fazia mal para o planeta, mas uma vida sem carne? Impossível! Ele era um grande seguidor do filósofo Homer Simpson, que disse ‘eu seria vegetariano, se bacon crescesse em árvores.’ Mas Korteweg fez a mudança. Sua empresa, De Vegetarische Slager, produz agora carne artificial a base de tremoço, que é tão bem sucedida que ele já ganhou até competições de almondegas!

Jaap Korteweg

STORYTELLERS ACTIVISTAS

Enquanto os palestrantes da manhã fizeram mudanças em indústrias de dentro ou de fora delas, a próxima seção focou em ativismo. A curadora Ana Elena Mallet, por exemplo, percebeu que seu país tinha 2,000 museus, mas nenhum deles dedicado ao design. Ela resolveu tomar para si a tarefa de construir uma cultura de design no México.

Anna Elena Mallet

A documentarista holandêsa Sunny Bergman contornou sua missão de ressaltar o racismo latente que permeia a sociedade holandesa, como ilustrado pelo personagem Black Piet. A vontade de Bergman de desafiar as normas, ‘descolonizar nossas mentes e lutar contra a desigualdade’ aparece em tudo que ela faz. Ela inclusive construiu uma plataforma ativista para reeducar professores sobre a ciência de seus preconceitos inconscientes.

Sunny Bergman

A difícil tarefa de mudar as atitudes impregnadas é compartilhada por Ahmed Shihab-Eldin, um jornalista palestino-americano que faz cobertura do Oriente Médio. Ele mudou como até veículos respeitados como o New York Times açucaram a verdade com manchetes como: ‘Duzias de palestinos morreram em protestos…” A escolha de palavras que evita a verdade inconveniente de que esses palestinos foram mortos por forças israelenses.

‘Eu não entendo jornalismo passivo’, Shihab-Eldin disse. ‘Não me desculpo por tentar expor os fatos e injustiças sofridos pelas pessoas. Jornalistas tem a responsabilidade imperativa de mudar a sociedade para o melhor.’ Para ele, verdade, transparência e responsabilidade são os princípios do redesign jornalístico, e infelizmente esses valores costumam faltar.

Ahmed Shihab-Eldin

Os três palestrantes concordam que sua responsabilidade é com a verdade. Todos se vêm como contadores de historias humanas de forma provocadora. Shihab-Eldin falou por todos quando disse: ‘eu não sinto nenhuma vergonha por advogar pelo que eu acredito ser certo, baseado nas minhas observações, o que é o papel principal do repórter.’

BESOUROS NO AGRIÃO INDIANO

O dia 2 foi fechado com três apresentações por verdadeiros pioneiros em diferentes continentes. A master chef Elena Reygadas, da Cidade do México, paparicou a todos com um aperitivo com mensagem. Bandejas de flores de agrião indianas, cada uma com uma proteína de inseto, foram passadas ao longo das fileiras do público. Enquanto as pessoas mordiscavam, Reygadas explicou que seu objetivo era reconectar a tradição e as grandes riquezas da sua terra natal. Para ela, o passado antigo mostra o caminho a diante.

Elena Reygadas

MANIFESTO CIRCULAR

Essa busca por valores que valham a pena fez eco nas ideias do designer de produto Daniel Freitag, que foi do desenho de suas bolsas assinatura para desenhar organizações que girem em volta do mantra de ciclos e conceitos circulares. Ele dividiu conosco Manifesto Circular de sete pontos: nós mantemos as coisas em círculos fechados; nós possuímos objetivos que durem; nós arrumamos; nós acreditamos em sistemas desenhados para compatibilidade; nós preferimos acesso à propriedade; nós pagamos por resultados, não recursos; nós perdemos velocidade para ganhar tempo.

Seu último pensamento foi um argumento por confiança: ‘nós acreditamos em bons criadores. Bons criadores precisam de confiança, não roteiros.’

Daniel Freitag

PODER QUE SALVA VIDAS

Pensamentos semelhantes foram elaborados pelo ultimo palestrante, Robert Wong, do Google Creative Lab. ‘Designers têm o poder de salvar vidas criando visões de futuros possíveis que ainda não existem. Uma vez que você pinta um quadro, e ele é atrativo o suficiente, todo mundo se junta. Sim, vamos construir isso.’

Robert Wong

Wong não acredita que a tecnologia é o que traz inovação. ‘Isso não é verdade. Fake News. Sempre será o coração e a imaginação do ser humano que mudará as coisas, que construirá o futuro. Design é o coração e a imaginação em forma tangível.’

Recentemente, ele percebeu que tudo é inventado. ‘Tudo: países, religiões, linguagens, até croquetes. Eu me sinto honrado de fazer parte dessa turma de designers que podem dar forma ao futuro, e possivelmente salva-lo.’